Resenha: A Casa das Rosas - Andréa Zamorano

Título: A Casa das Rosas
Autora: Andréa Zamorano
Editora: Tinta Negra
Páginas: 176


Corre o ano de 1984 em uma São Paulo inebriada pelo sonho de eleições diretas – o Movimento Diretas Já está em curso.
O povo clama por liberdade; Eulália, jovem paulistana, protagonista desta história, também. Criada com muita rigidez e autoritarismo pelo pai rico, político conservador e homem ciumentíssimo, Eulália, ao completar dezoito anos, se depara com insólitos acontecimentos que marcarão sua vida de forma definitiva.
Um tabu prestes a ser violado, um vestido de noiva rasgado, uma família destroçada, uma fuga pela cidade turbulenta, um sagui que fala, um crime a ser desvendado, um detetive em busca de si mesmo, um corpo revelado, um poeta que só surgirá décadas mais tarde nos livros de Roberto Bolaño, um jardineiro que sabia demais, o perfume das rosas. Uma história fora do comum, mas, sobretudo, um libelo contra a opressão.
Uma narrativa elíptica e surpreendente, em que a autora encontra sua identidade numa língua portuguesa que funde culturas.




“Quis que fôssemos apenas nós os dois, um para o outro, que não houvesse o mundo lá de fora, muito menos o daquela altura, tão opressor.”
Quando acabei a leitura fiquei dias pra fazer a resenha, e agora que estou fazendo o único pensamento que passa pela minha cabeça é que não vou conseguir fazer a resenha. Não sei se ela vai fazer sentido, ou se vou me expressar certamente, então já aviso logo se algo não fizer sentido a culpa não é do livro porque gostei muito do livro, acredito que a culpa seja realmente minha. Então, ignorem e finjam demência se algo ficar meio louco kkkkkk.

O livro começa em meados de 1965, quando Maria Candida conhece Virgílio Antunes. Maria Candida é uma mulher cheia de vida e beleza, que se apaixona logo que de imediato pelo jovem  rapaz que é politico e rico. Logo de início Virgílio tinha uma personalidade carinhosa e amorosa, mas após Candida engravidar essa personalidade muda totalmente e ele começa a rejeitar a esposa, desprezá-la e tratá-la de uma forma totalmente machista e preconceituosa. Com isso ele a deixa trancafiada em um quarto, o único proposito dela é proteger sua filha Eulália, porém algo acontece e ela some, e assim o livro da início a história de Eulália.
"Gorda. Como é que consegue viver com essa barriga enorme? Parece uma porca parideira. Não posso ter uma esposa cheia de manchas na cara. Com o nariz de batata e lábios grossos como uma negras. Como é que vou aparecer nas reuniões do partido com você? O único neto do Sá Vasconcelos casado com uma aberração."
Eulália tem 18 anos e ama poesia. Uma moça que teria um futuro todo pela frente, mas é controlada em tudo pelo pai. Ele não deixa ela nem decidir a faculdade que ela quer fazer, ela precisa optar por duas Medicina e Direito, e com isso acaba optando em fazer Direito, só que ela até pra ir pra faculdade precisa do motorista. Eulália vive basicamente pra estudar, já que o pai dela não deixa ela fazer muita coisa.
“Nunca mais manhãs ensolaradas, nunca mais passeios no parque, nunca mais riso de criança. Faz sempre muito frio aqui.”
Eulália não conhece e nem sabe nada da sua mãe, e por mais que ela tenha interesse em conhecer todo o passado é um segredo que o pai dela não revela. De tanta privação que ela é acometida, Eulália considera o pai dela um herói. Vive entre uma casa imensa e com um jardim repleto de rosas, mas isso tudo muda da água pro vinho no dia de seu aniversário de 18 anos. E foi inclusive uma surpresa pra mim esse aniversário dela, eu li e reli pra vê se não estava lendo errado. Com esse acontecimento impactante Eulália foge e com o tempo descobre coisas que podem chocar até os mortos.

O livro foi escrito intercalando em primeira pessoa quando era a parte da Eulália e em terceira pessoa quando era o ponto de vista de qualquer outra pessoa, nos deixando ainda mais intrigado com a história. Em um ritmo de poesia a historia é fluida e nos deixa intrigado com tudo conforme alguns acontecimentos são revelados.



A autora nasceu aqui no Brasil, mas mora a muitos anos em Portugal, então durante a leitura percebemos isso na escrita dela. Durante a leitura não encontrei erros ortográficos e de primeiro momento a capa e a sinopse não me encantou, mas durante a leitura é possível compreender melhor ambos.

Se já não bastasse toda a trama da história em si, o livro tem como pano de fundo as Diretas Já. Virgílio na época era um politico influente e que tinha certa repulsa pelo o que as pessoas estavam lutando, só aí você percebe que Virgílio não era fácil de lidar, por não encontrar melhor jeito de expressar.
“Naquela altura, eu acreditava que algumas coisas só aconteciam na ficção, não no mundo real.”
Outro detalhe interessante é que A Casa da Rosas, não só por ser o título, mas por ser um lugar existente até hoje aqui em São Paulo na Avenida Paulista e que é hoje em dia nomeada como Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Um local que tem oferecido à população de São Paulo cursos, oficinas de criação e crítica literárias, palestras, ciclos de debates, lançamentos de livros, apresentações literárias e musicais, saraus, peças de teatro, exposições ligadas à literatura, etc. Antes de se tornar o que é, esse local era um  local que reunia a maioria dos milionários barões do café, e somente em 1986 ela foi desapropriada pelo governo, na parte do terreno que dá para a Alameda Santos, foi liberada a construção de um moderno edifício comercial enquanto a casa foi restaurada e transformada pelo Estado de São Paulo em espaço cultural, inaugurado no ano do centenário da Avenida Paulista, 1991. E em 2004 A Casa da Rosas foi reinaugurada e se tornou Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura sendo o que é hoje.

A Casa das Rosas é um livro com o pano de fundo a Diretas Já e a redemocratização. O livro nos mostra que não é uma simples leitura, mostra além disso a história de um amor doentio, que é capaz de fazer coisas sombrias. A história de uma menina que precisou fugir e viver a vida de uma forma totalmente diferente, pra realmente ter coragem de descobrir o seu passado é tão sombrio quanto ela imaginava.









5 comentários:

  1. Fiquei completamente intrigado após ler a resenha. Desde o início dá pra perceber que se trata de uma leitura intensa, tanto também pelo contexto da época, e com personagens complexos também. Estou num misto entre "preciso ler esse livro por causa da época em que se passa e de ser no Brasil" e um receio de ainda não estar preparado pra leituras mais densas e sombrias assim. Mas de qualquer forma vou dar uma pesquisada kkk. Curti muito a resenha e ainda mais por ser de um tipo de livro não tão comentado normalmente. Abraço!

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  2. Raquel!
    O livro parece carregado de segredos a serem descendados e até um tanto confuso, porém carregado de aventuras e reviravoltas.
    Acredito que apenas lendo saberei como eses mistérios serão resolvidos e o que realmente acontece na vida de Eulália.
    Semaninha alegre e feliz!
    “No fundo, morrer não seria nada. O que não suporto é não poder saber como terminará.” (A. Amurri)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  3. Me pareceu uma historia intensa, cheia de segredos e se for bem escrita tem tudo para ser um baita livro, eu adorei a capa e a ultima foto, não sei se essa casa faz parte do livro, mas enfim. A epoca narrada tambem deve contribuir para deixar o livro tenso. Não conhecia mas a dica de um livro nacional foi o maximo.

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  4. Gostei muito da sua resenha, ainda não conhecia o livro e já quero ler. Seu blog é lindo, amei tudo por aqui :D

    https://submersa-em-palavras.blogspot.com.br/

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  5. Um livro com uma pitada de suspense neeh, gostei na resenha e sinopse, mas o interesse ainda não fluiu, não é o tipo de livro que gosto de ler.

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