Resenha: O Ano da Graça- Kim Liggett

Título: O Ano da Graça
Autora: Kim Liggett
Editora: Globo Alt
Páginas: 356
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Tierney James vive no Condado de Garner, uma sociedade patriarcal onde as garotas aprendem desde cedo que sua existência é uma ameaça. Lá, acredita-se que jovens mulheres detêm poderes obscuros e, por isso, ao completarem dezesseis anos, são enviadas a uma espécie de campo de trabalho, no qual devem permanecer durante um ano para se “purificar”. Mas nem todas retornam vivas e as que voltam parecem diferentes. No Condado de Garner, é proibido falar sobre o Ano da Graça. Mas Tierney está pronta para subverter as regras.
O Ano da Graça é uma história brilhante, assustadora e atual sobre os complexos laços formados entre mulheres e a resistência delas em uma sociedade misógina, patriarcal e desigual.
O livro será adaptado para o cinema pela Universal Pictures com produção e direção de Elizabeth Banks.





"Somos chamadas de sexo frágil. Nos martelam com isso todo domingo na igreja, explicam que é tudo culpa de Eva por não ter expelido a magia quando pôde, mas ainda não entendo porque as garotas não tem escolha. Claro, temos acordos secretos, sussurros no escuro, mas por que são os garotos que decidem tudo? Até onde sei, todos temos coração. Todos temos cérebro. Só vejo algumas diferenças, e a maioria dos homens parece pensar com aquilo, de qualquer forma".

O livro O Ano da Graça nos leva até o Condado de Garner, onde todos os anos as mulheres ao completarem 16 anos são obrigadas a irem para uma floresta e ficarem lá pelo período de um ano para que sua magia suma, antes disso elas passam por um ritual onde os homens escolhem com quem vão casar, caso elas retornem dessa Floresta.

Nesse Condado acreditam que as mulheres tenham magia e que ao completar 16 anos essa magia ganha força, e exatamente por isso elas são obrigadas a ficarem isoladas, para reconhecerem  e eliminar a magia.



Tudo o que acontece no Ano da Graça não pode ser falado, é um segredo que elas vão precisar carregar. Muitas das garotas que vão não voltam, e com isso as especulações (em pensamento) ganham ainda mais força.

Condado de Garner é um local machista, uma sociedade patriarcal e quem tem pensamentos ou atitudes diferentes daquelas que são impostas podem sofrer graves consequências. É incrível ver que muito do que é descrito no livro não fica tão distante da realidade onde vivemos.

"É proibido. Nos dizem que temos o poder de fazer homens adultos saírem de suas camas, deixar garotos alucinados e enlouquecer as esposas de tanto ciúme. Acreditam que nossa pele emana um afrodisíaco poderoso, a essência potente da juventude, de uma menina à beira de se tornar mulher. É por isso que somos banidas aos dezesseis anos."

Quando essas garotas se isolam fica ainda mais presente a forma que o patriarcado teve força na criação de cada uma delas. Tirney é uma das poucas que tem um pensamento diferente e até ganha aliadas, mas  a forma da criação delas mostra o quanto várias das situações as afetam , onde elas até se sentem culpadas por coisas que estão fora do seu alcance ou reproduzindo alguns tipos de comportamentos.



O livro tem uma mistura de distopia com romance e acho que aqui o romance foi o que menos fez falta. Entendi o motivos e até acredito que possa sair mais um livro por causa disso, mas mesmo o romance trazendo informações significativas acredito que muitas delas poderiam ser explicadas sem o romance ou até mesmo esse romance ser conduzido de outra forma, não vou falar motivos para evitar spoilers.

Algumas das coisas que acontece são tão chocantes para o leitor, mas para os personagens é algo normal, mostrando o quanto tudo ali é doentio.

O livro é todo escrito em terceira pessoa e pelo ponto de vista de Tirney, a capa tem um significado único para o livro e quanto mais a gente observa mais a gente reconhece as ligações.

"No condado, não há nada mais perigoso do que uma mulher que fala o que pensa. Foi o que aconteceu com Eva sabia? Por isso fomos expulsas do paraíso. Somos criaturas perigosas. Cheias de feitiços demoníacos. Se tivermos a oportunidade, usaremos nossa magia para seduzir homens, para o pecado,a crueldade, a destruição..."

Tirney é uma personagem que mesmo jovem te surpreende, ela por mais que tenha sido criada em uma sociedade patriarcal e machista, teve algumas diferenças sabendo desde cedo o que queria, e que o casamento não era uma dessas coisas. E errada não tá, né amores?

Tirney tem uma voz importante durante toda história e a voz dela junto com a de outras mulheres seria capaz de uma grande revolução, e é exatamente por isso que acho que ainda teremos um spin off, caso não tenha a revolução que ela fez na minha cabeça já valeu a pena.



Cada vez que leio um livro desse estilo é como se abrisse um pouco mais os meus olhos, identificar muitas das coisas escrita nesse livro no mundo onde vivemos e no governo atual torna tudo muito mais real. O Ano da Graça vai abordar a religião de forma doentia, o patriarcado, o machismo, e os abusos que as mulheres vivem só nós mostra o quanto o mundo real e a ficção não estão muito distantes, infelizmente.


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