Resenha: Vox - Vox # 1 - Christina Dalcher

Título: Vox - Vox # 1
Autora: Christina Dalcher
Editora Arqueiro
Páginas: 320
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O governo decreta que as mulheres só podem falar 100 palavras por dia. A Dra. Jean McClellan está em negação. Ela não acredita que isso esteja acontecendo de verdade. Esse é só o começo... Em pouco tempo, as mulheres também são impedidas de trabalhar e os professores não ensinam mais as meninas a ler e escrever. Antes, cada pessoa falava em média 16 mil palavras por dia, mas agora as mulheres só têm 100 palavras para se fazer ouvir. ...mas não é o fim. Lutando por si mesma, sua filha e todas as mulheres silenciadas, Jean vai reivindicar sua voz.









"O que as meninas estudam agora? Um pouco de soma e subtração, ver as horas, saber contar o troco. Contar, claro. Devem aprender a contar até cem."

Acabei esse livro alguns dias atrás e não sei nem o que falar, ao mesmo tempo que quero falar tudo sobre o livro, não sei como abordar. Pode até ser controverso, mas é um livro que vai mexer com tudo que você pensa até o momento, e se não pensou ainda sobre o que fala na história, com certeza vai pensar e se já pensou vai pensar ainda mais.

Vox é uma distopia, não muito distante e que se passa nos EUA após a última eleição que foi dominada por extremistas religiosos. E hoje além de viver em um retrocesso, já que as mulheres não podem mais trabalhar, precisam seguir as regras impostas extremamente religiosa e machista. Além disso, as escolas não ensinam para as mulheres nada além de economia, já que elas só precisam disso pra cuidar da casa e ser uma ótima do lar.

Jean é uma cientista e está em estado de revolta, porque além de ter tudo tirado da sua vida sem escolha, ela ainda é obrigada a ver sua filha Sonia sendo criada dessa forma. Mesmo tendo Patrick, seu marido apoiando ela, mas não é o suficiente, porque ainda assim ela não vê nenhuma saída, na verdade ela vê seu filho Steven seguindo rigidamente tudo aquilo que pregam e se tornando aquilo que ela mais odeia no momento, uma cópia de um fanático religioso, um homem puro. Os gêmeos são os que menos afetam ela no momento, porque eles ainda estão sendo treinados pra serem homens puros igual o irmão. E como protestar, reclamar, se as mulheres só podem falar cem palavra por dia?

"Era isso que ele queria: mulheres e meninas dóceis. As gerações mais velhas precisam ser controladas, mas por fim, quando Sonia tiver filhos, o sonho do reverendo Corbin, de Mulheres Puras e Homens Puros, dominará o mundo. E eu o odeio por isso."

Eu não vou continuar falando do livro pra não dar spoiler, mas agora vou falar do mundo real. Será que após tudo que eu falei você consegue enxergar algo parecido com o mundo real? Será que é tão longe assim da realidade?

Eu não consigo enxergar essa distância da ficção com o mundo real, e por isso esse livro me apavorou tanto. Acho que nem todos os livros de terror que já li me deixaram com tanto medo quanto esse livro, porque esse livro não mostra só um mundo fantasioso, nos deixa cara a cara com uma realidade que infelizmente pode está próxima.
"Eles não irão atrás de Lorenzo. Disso eu sei. A insensatez dos homens sempre foi tolerada."
A autora ainda mostra esse novo cenário com alusão ao presidente anterior, que no caso era negro, e agora o EUA está sendo governado por um homem branco e totalmente religioso, enxergam as semelhanças?
E será que enxergam essas semelhanças aqui no Brasil também?
Eu infelizmente enxergo, porque não precisa ser algo que aconteça no dia primeiro de janeiro, mas será que isso realmente não vai acontecer?

"– Vocês não fazem ideia, senhoritas. Absolutamente nenhuma ideia. Estamos a um passo de voltar à pré-história, meninas. Pensem nisso. Pensem onde vocês vão estar, onde suas filhas vão estar, quando os tribunais atrasarem os relógios. Pensem em expressões como “permissão do cônjuge” e “consentimento paterno”. Pensem em acordar um dia e descobrir que não têm voz em nada..."

Imagina você que tá lendo e faz parte da minoria, ser obrigado a se calar, a mudar aquilo que você acredita, redes sociais será algo do passado, você não pode fazer absolutamente nada que fazia antes e terá que se adequar com o que acontece se quiser continuar vivo. O livro aborda todas as minorias, porém não vou citar pra evitar spoilers desnecessários.



Não tem como eu não comparar o livro com O Conto da Aia. Eu ainda não li o livro, mas assisti a série, e mesmo que ela abordem coisas diferentes não deixam de ser ambas distopias reais e dolorosas, ambas que nos fazem repensar no nosso papel de mulher na sociedade.

O livro foi todo escrito em primeira pessoa e pelo ponto de vista da Jean, e durante a leitura não encontrei erros ortográficos. A capa é igual a original e tem toda representação do livro. Os personagens secundários são de extrema importância, não vou mentir que alguns amei mais que o outro, mas preciso garantir que Patrick foi minha maior surpresa. Dei 4.5 estrelas no Skoob pra esse livro porque achei o romance colocado nele desnecessário, mas isso não tira toda a mensagem passada no livro, e aqui por não ter meia estrela vou dar 5 lindas e gritantes estrelas.

“Como mulheres, devemos manter o silêncio e obedecer. Se precisarmos saber de algo, perguntemos aos nossos maridos na intimidade do lar, porque é vergonhoso uma mulher questionar a liderança do homem, ordenada por Deus.”

Vamos trazer o livro pra vida real um pouco, agora imagine você mulher falando somente cem palavras. Imagina sua filha, sobrinha ou qualquer criança que você conheça também só falando cem palavras. Continue imaginando, agora imagine aquela sua amiga feminista que você sempre julgou como extremista, que achava que estava sempre de mimimi, imagina ela não podendo não lutar pelos direitos das mulheres, isso inclui o seu. Agora vamos aprofundar isso, imagine você tomando choques a cada palavra que ultrapassar da sua quota diária. E se você é homem está lendo isso e não sentiu absolutamente nada, só mostra o quanto você é babaca.
"- Honestamente, Jacko... Você está ficando histérica [...] - Bom, alguém precisa ficar histérica por aqui."
Vox pode ser um livro fictício, mas não deixa de ser uma forma de mostrar o que estão querendo fazer na realidade, não deixa de mostrar o que muitas pessoas querem fazer, que é calar as minorias. É um livro pra lê e repensar em tudo que tem acontecido ao nosso redor. Esse livro mexeu de todas as formas possíveis comigo, e acredito que vai mexer com todos os leitores, principalmente as mulheres.





Um comentário:

  1. Super desejando esse livro!
    É muito atual, acredito que seja forte, pesado, mas tão necessário que seja abordado.
    Sua resenha despertou ainda mais o interesse; também não li O conto da aia, mas agora fiquei curiosa.

    Beijos

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